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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Um simples Toque


Agnes e Erick

- Sabe que eu não consigo te imaginar triste?
Ela disse com um tom sereno e desinteressado, deixando claro que era apenas uma opinião própria e nada mais.
-Não?! Porque não consegue?
Ele respondeu, perguntando ao mesmo tempo com um tom de surpresa e ironia, era difícil acreditar no que acabara de escutar.
-Ah, porque você sempre quer colocar as pessoas pra cima. Sempre fica tentando entender as pessoas e isso faz você parecer ser a pessoa mais bem resolvida do mundo!
Seu tom era de seriedade e ternura, como se ela estivesse tentando dizer algo por trás daquilo. Mas ao contrario de falar qualquer coisa, ela simplesmente ficou quieta e aguardou pela resposta dele.
- Eu nem sei o que dizer, eu não digo que sou infeliz, mas as vezes eu queria parar de pensar mais nos outros e cuidar um pouco mais de mim, ou talvez ter alguém que cuidasse de mim porque saberia que eu cuidaria dela em troca...
Ele fez uma pausa como se estivesse sendo devastado pela honestidade de suas palavras, então concluiu:
- Eu acho que sinto falta do amor, de amar e ser correspondido mesmo que em menor escala.

Nem mesmo ele poderia imaginar o que havia acabado de confessar, ele nunca se permitiu estar ou ficar tão exposto assim, não era algo que ele estava acostumado a fazer. Ele se perguntava se talvez não era esse o motivo que levava todos a não se preocupar em perguntar se ele estava bem ou não, mas sim em ir direto ao ponto de interesse deles. Afinal, ele não transparecia possuir magoas, tristezas, frustrações ou dores. Ele não demonstrava ser um ser humano como qualquer outro, fazia parecer que ele era mais que isso, como se fosse um andróide ou algum Olimpiano caído.

Então, antes que todo aquele blá blá blá interno pudesse tomar conta, ela o interrompeu:
- Bem, é verdade, é isso mesmo, acho que todo mundo precisa disso pra viver Erick. Mas assim, você acha que se ela chegasse em você , você cederia?

Ela perguntou com total receio de que suas palavras pudessem despertar algum tipo de raiva ou lembrança indesejada a ele. E após algum tempo, ele respondeu com firmeza e melancolia:
- Eu acho que eu já estou rendido antes mesmo dela pensar em existir pra mim, mas tenho certeza que isso seria algo improvável de acontecer também. Ela não faria isso, definitivamente ela não teria coragem e nem vontade de ter qualquer coisa que fosse comigo. Ela não me ama, acho que nunca amou e é apenas isso.

Dizer aquilo estava matando ele por dentro, não apenas por estar se expondo de tal maneira a alguém, mas também por sentir que admitir aquilo tudo parecia o mesmo que esmagar o próprio coração. Aquilo tudo era uma imensa confusão em sua vida desde o início, e quando tudo que ele planejava deixou de existir as coisas só pioraram. Mas antes que ele pudesse deixar involuntariamente alguma lágrima cair, antes dele demonstrar qualquer traço de rachadura em seu perfeito sorriso, ela o segurou pelas mãos de forma firme enquanto acariciava seus dedos com o polegar.
Então começou a falar, com tamanha ternura e compreensão em sua voz, que fez ele lembrar de sua mãe ao tentar convence-lo sobre coisas certas a se fazer.
- Isso é realmente triste, lamentável ate, porque você merece absolutamente tudo que deseja, merece porque é algo puro e que vem do coração. - Ela fez uma pequena pausa como se estivesse tomando folego, concluindo - Mas sabe, uma vez um cara muito inteligente e decido me falou que a vida era como um jogo de xadrez, mas que o amor era como um jogo de poker. E que em ambos, só era de fato o fim, se você desistisse de jogar ou perdesse as esperanças, se parasse de planejar como conseguir aquilo. Esse cara me ensinou que era preciso planejar, acreditar e ter coragem pra realizar cada movimento ou aposta. E que se a gente mantivesse a coragem, o entusiasmo e a fé, tudo era possível e ate mesmo uma partida perdida poderia revelar surpresas e nos oferecer alguma glória. 

Ele mal podia acreditar que estava escutando suas próprias palavras através dela, era como ouvir suas crenças e esperanças infantis sendo lembradas como velhos cantos de heróis e suas aventuras na Grécia antiga. Ele pensou em dizer algo, mas deixou que ela terminasse sua própria lição de vida.

- Então eu espero que mesmo com o coração tão massacrado, que aquele cara consiga enxergar a sabedoria e o conforto que suas palavras possuem pra quem as escuta. E que ele possa ouvi-las, porque ele tem todas as respostas e é inteligente o bastante pra dar a volta por cima e ganhar esse jogo!
Ela parou por um instante e fitou o ambiente ao redor, como se buscasse qualquer ajuda para se fazer ser escutada, mas logo em seguida olhou em seus olhos e voltou a dizer:

-Acima de tudo, eu e muita gente, confiamos e acreditamos nele, admiramos seus ideais, seus princípios e toda aquela forma arcaica e cavalheira que ele tem de conversar, o exemplo que ele oferece de como todos deveriam agir. E nós amamos esse cara, não queremos mais vê-lo sempre tão distante e isolado, tão triste e decepcionado com tudo e todos, nós queremos o nosso Erick de volta, e queremos que ele volte a enxergar um lado ou algo bom independente da situação que fosse. Porque é isso o que ele sempre fez e nos ensinou a fazer.

Quando ela, a Agnes, terminou seu discurso quase que tropeçando nas palavras, ele pode sentir que seu nariz começara a ficar quente e seu rosto úmido pelas lágrimas que desciam silenciosamente. Mas ela não esboçou medo ou surpresa, apenas limpou as lágrimas que desciam sem parar dos olhos de Erick. Até que finalmente ela deixou que as lágrimas continuassem a cair e desviando o olhar para o céu, ela lhe disse:
- Nunca achei algo vergonhoso ou demostração de fraqueza o fato de um homem chorar, muito pelo contrário. No seu caso, inclusive, acredito que seja muito além do que outros casos. - Ela fez uma pequena pausa dando um suspiro mais profundo e de forma pratica continuou - Chore e permita que esse oceano de tristeza abandone o seu corpo, deixe principalmente que a sua alma seja limpa e purificada por essas lágrimas tão puras e verdadeiras.

Ele deu apenas de ombros enquanto soltava um sorriso meio torto e desalinhado, um sorriso tão diferente e natural com o qual ele já tinha se desacostumado a ter. Erick sabia que ela era importante e percebeu que quase sem querer, a partir daquele momento ele ficou feliz e orgulhoso pela sensação de estar deixando algo bom para as pessoas, deixando algo que era um pouco dele e de todo mundo. Ele percebeu que não vivia apenas por algum propósito egoísta e fútil, mas que estava vivendo por todos que precisavam dele.
Percebeu que sua vida não estava sendo em vão como acreditava, pode entender que as vezes o amor vem de uma forma diferente, mas mesmo assim não deixa de ser uma forma de amar boa o bastante, o que pra ele era mais que o suficiente. Erick sabia o quanto um amor não correspondido poderia machucar, sabia como por vezes ele salvara a sua vida e em como ele sempre esteve ao seu redor, principalmente na forma da natureza ao seu redor. Ele sorriu por um momento, sentiu seus olhos ficarem marejados, novamente de forma involuntária,  mas não se importou se as lágrimas voltassem a cair. Então, ele apenas manteve um sorriso sincero nos lábios e um olhar repleto de ternura por toda beleza que existia ao redor dele e de Agnes. E aquilo bastaria por aquele dia, porque o amanhã seria um dia diferente e novo. 

(...)

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